sábado, 30 de janeiro de 2010

Escândalo Brasileiro (26) - Lalau fez escola

VEJA
Edição 2004

18 de abril de 2007


Lalau fez escola

Sede da Procuradoria-Geral do Trabalho custará  130 milhões de reais e já tem irregularidade

Julia Duailibi


Ana Araujo
As obras em curso e a maquete do prédio: você paga outra vez
No início da década, o país assistiu à novela do superfaturamento das obras do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. Nela, o protagonista era um juiz corrupto com apelido de chanchada, o "Lalau", e o fio condutor, o desvio de uma centena de milhões de reais. Na semana passada, uma história parecida começou a tomar corpo em Brasília. A Procuradoria-Geral do Trabalho pediu à Procuradoria-Geral da República a abertura de investigação criminal para apurar "prática delituosa" e "erros na execução de contratos" relativos à construção de sua própria sede. "Por sermos procuradores, temos de ser duplamente mais zelosos com a aplicação dos recursos públicos", declarou a procuradora-geral do Trabalho, Sandra Lia Simón. Esse zelo deveria ter alcançado o período anterior ao lançamento das fundações do prédio.
Trata-se, afinal de contas, de outro elefante branco pago com o dinheiro do contribuinte: uma construção que, orçada inicialmente em cerca de 20 milhões de reais, custará 130 milhões de reais ao Erário. Ela terá 56 000 metros quadrados e abrigará, a princípio, 476 funcionários. Não, não falta um zero nesse número. A nova sede da Procuradoria do Trabalho terá uma densidade demográfica equivalente à do Palácio de Versalhes de Luís XVI e Maria Antonieta. Como não há guilhotina no Brasil para os representantes do estado perdulário, o valor do metro quadrado construído – 2.320 reais – é mais caro que o de gigantescos empreendimentos de luxo prestes a ser erguidos em São Paulo, como o Shopping Vila Olímpia.

Ed Ferreira/AE
Lalau, o pau para toda obra do TRT em São Paulo: a farra com o dinheiro público é uma história sem fim
A Versalhes dos procuradores exibirá a forma modernosa de um autorama. Contará com oito andares, três deles subsolos de garagem, vagas para 664 carros, três auditórios, nove elevadores, câmara frigorífica, cozinha industrial e pisos de granito. É claro que uma gastança dessas despertaria o apetite dos corruptos. De acordo com investigações internas da Procuradoria do Trabalho, há indícios de compras superfaturadas e de emissão de notas fiscais referentes a serviços não prestados. Dos três contratos firmados para a execução da obra, dois têm digitais suspeitas: o da MHA Engenharia, responsável pela fiscalização da obra, e o da Delta Construções, vencedora da licitação para executar o projeto. A Delta já foi acusada de irregularidade em contratos com o Ministério dos Transportes e chegou a apresentar documentos falsos para participar da licitação da Operação Tapa-Buraco realizada no ano passado nas rodovias federais. O desvio de conduta é tão flagrante que dois funcionários da Procuradoria do Trabalho, responsáveis pelo departamento de obras, foram exonerados de seus cargos há quinze dias. Agora só falta descobrir se há um Lalau nesse angu.
 

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